Dirigentes que formam a Liga Forte União (LFU) se reuniram duas vezes para discutir a alteração do contrato com os investidores coordenados por Life Capital Partners (LCP) e XP Investimentos. Falta ainda a assinatura, mas há acordo entre as partes. Os clubes concordaram em reduzir o percentual dos direitos comerciais vendidos para esses terceiros, referentes aos próximos 50 anos do Campeonato Brasileiro. Inicialmente, os investidores se apropriariam de 20% das receitas durante esse período. Agora, o percentual mudará.
Na Série A, os clubes reduzirão as participações para 10%. Incluindo Athletico, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza e Internacional, que vinham originalmente do grupo Forte Futebol, e Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que pertenciam ao Grupo União e aderiram ao grupo depois. Em outubro de 2023, foi paga a primeira parcela. Dos clubes da Série A, os valores depositados foram equivalentes a 12% dos direitos para a maioria dos clubes — exceto Botafogo e Cruzeiro, que receberam apenas o correspondente a 10%. Para os demais times, como seus dirigentes agora decidiram reduzir o percentual vendido para 10%, e eles receberam 12% em outubro, será preciso devolver aos investidores a quantia igual a 2% do aporte.
Clube | Valor equivalente a 20% | Valor equivalente a 10% |
Internacional | 218 milhões | 109 milhões |
Cruzeiro | 214 milhões | 107 milhões |
Fluminense | 213 milhões | 106,5 milhões |
Vasco | 212 milhões | 106 milhões |
Athletico-PR | 203 milhões | 101,5 milhões |
Botafogo | 184 milhões | 92 milhões |
Fortaleza | 121 milhões | 60,5 milhões |
Cuiabá | 57 milhões | 29 milhões |
Na Série B, os clubes se dividirão em faixas; alguns com 15%, outros com 17%, a minoria com 20% vendidos. Por parte dos dirigentes, pesou a favor da mudança do contrato a disparidade que se abriu diante da Libra — outro bloco de clubes, que não vendeu percentual algum de seus direitos comerciais para investidores. Caso a LFU se mantivesse com 20% vendidos, haveria maior desigualdade na distribuição dos direitos de transmissão do Brasileirão.
A decisão de alterar o contrato com os investidores causará consequências em duas frentes para os clubes da LFU. No fluxo de caixa, há problemas a serem resolvidos pelos dirigentes nas próximas semanas. Na contabilidade, questões são mais emblemáticas do que práticas.
Primeiro, em relação ao fluxo de caixa, dirigentes terão de lidar com a adaptação do planejamento para 2024 e 2025. Clubes contavam com os pagamentos da segunda e terceira parcelas dos investidores. Como esse dinheiro não cairá mais na conta de quem concordou em reduzir o percentual, pode se abrir um buraco nas contas dessas temporadas.
Para quem terá de devolver verba da primeira parcela, os parceiros da LFU facilitaram as condições, com cinco anos para o pagamento. Depois, na contabilidade, o impacto da mudança será visto nas demonstrações contábeis que serão publicadas em abril de 2025, referentes ao exercício de 2024. Nelas, os clubes precisarão fazer uma reversão dos valores que tinham sido lançados no balanço anterior.
Ao mesmo tempo em que os clubes discutiam a mudança do contrato, os investidores da LFU estavam no mercado financeiro atrás dos recursos para honrar os pagamentos. E o dinheiro foi obtido no início deste mês, em 12 de setembro, após mais uma rodada de captação.
A Sports Media Participações S.A, empresa aberta pelos investidores da LFU para gerir os direitos comerciais dos clubes, obteve cerca de R$ 750 milhões com um hedge fund brasileiro — tipo de fundo de investimentos geralmente mais agressivo e mais disposto a correr riscos.
O valor será usado pelo parceiro da LFU em várias finalidades:
- Repagar dívidas com sócios, como XP e Livemode;
- Pagar valores remanescentes da primeira parcela da LFU;
- Pagar valores da segunda e terceira parcelas da LFU;
- Viabilizar empréstimo de R$ 150 milhões ao Corinthians;
- Adiantar R$ 60 milhões aos clubes paulistas da Série B.
Fotos: Christiano Beltrão