Passado o êxtase, passado o frisson e toda euforia que se fez necessária (e até obrigatória), temos que lembrar quão importante é mostrar para essa estrela que ela não é – nem nunca foi solitária.
Décadas de administrações danosas, sequências de erros de gestão financeira e esportiva que sangraram um clube que, de alicerce gigante para a construção da cultura vitoriosa do futebol nacional, tornou-se abatido e adormecido, respirando por aparelhos durante muitos anos. E não havia outra torcida de peso em terras tupiniquins tão machucada, flagelada e desconfiada que a a do Botafogo. A insegurança e o peso dos fracassos e a quantidade de ‘quases’ transformou o botafoguense em uma persona de resistência e medo contidos; quase como um veterano de guerra.
Ninguém mais merecia conquistar tanto do que o torcedor que viu, há um ano, a maior derrocada em um campeonato de pontos da história do jogo, ser protagonizada justamente pelo seu clube do peito. Mas talvez fosse esta a provação maior. Para mostrar quão forte foram aqueles que resistiram e permaneceram até causar justa a história que foi escrita.
Se Euclides da Cunha afirmou que o sertanejo é antes de tudo um forte, podemos afirmar que o botafoguense é antes de tudo um corajoso.
É difícil dimensionar por enquanto o tamanho de tudo isso para quem nunca o teve. É como ter acesso à festas de classe alta no qual nunca se teve a ficha de VIP, e agora se tem. Agora há uma mesa em que o Botafogo volta a se sentar para ser respeitado como a tradição e história de construção dessa instituição pede. E como dizem os otimistas, ‘e o pior Botafogo dos próximos anos’.
Não há mais azar resguardado, não há mais mística ou maldição. Não há mais falência decretada, torcida amargurada, sapos enterrados, 33 reais guardados no caixa e amadorismo funcional. Agora há um Botafogo de Futebol e Regatas e sua torcida que se mostra gigante. Em uníssono, eles se reergueram.
E este que vos escreve também.