Os fãs de F-1 na capital paulista podem ter neste domingo (17) a penúltima chance de vivenciar o Grande Prêmio Brasil no autódromo de Interlagos.
O vínculo entre a FOM (Formula One Management), braço comercial da modalidade, e a Interpub, empresa que organiza a corrida no Brasil há três décadas, vale somente até o próximo ano e a renovação está travada por aspectos financeiros e políticos.
As negociações se arrastam desde a prova de 2018. A FOM tem exigido receber uma taxa de promotor para renovar o contrato com a cidade de São Paulo, casa da F-1 de forma ininterrupta desde 1990.
A corrida no Brasil, assim como em Mônaco, é isenta dessa cobrança, de acordo com o contrato assinado em 2014, na gestão de Bernie Ecclestone. Acontece que o britânico vendeu a FOM para o Grupo Liberty Media por R$ 26 bilhões em 2016.
São Paulo tem a isenção da taxa até a corrida do ano que vem, a última dentro do período de validade do acordo firmado por Ecclestone.
Atualmente chefiada pelo americano Chase Carey a FOM tem mostrado postura diferente da gestão anterior na hora de negociar contratos. O GP da Alemanha, fora da próxima temporada, pode ser usado como exemplo.
O acordo para a realização da corrida terminou em 2018 e não foi renovado. A prova só aconteceu em 2019 porque a Mercedes bancou a taxa de promotor, algo que não irá se repetir ano que vem.
O valor pago por Hockenhein estava entre os menores. Baku desembolsa US$ 75 milhões (R$ 310 milhões) para receber a F-1 no Azerbaijão desde 2016. Os valores não são anunciados pela FOM e variam em cada país.
Enquanto perde o tradicional GP alemão, a F-1 sob o comando de Carey quer explorar mercados inéditos. O Vietnã será um novo palco da modalidade a partir de 2020.
“Desde que nos envolvemos neste esporte, falamos sobre o desenvolvimento de novas cidades, ampliar o apelo da F-1, e o GP do Vietnã é uma realização dessa ambição”, disse Carey durante o anúncio do país asiático.
Nas negociações, a Interpub apresenta Interlagos pela ótica da tradição e das constantes reformas na pista. Para cumprir com as exigências da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e da FOM, o autódromo recebeu R$ 900 milhões desde 1990 (valores corrigidos), segundo levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo.
As torneiras do dinheiro público, no entanto, podem secar. Além disso, os gastos para realizar a prova consomem quase R$ 30 milhões de São Paulo por ano.
O prefeito Bruno Covas (PSDB) avalia que as despesas se justificam com o retorno que a cidade recebe com gastos dos turistas que vem para o evento.
No último dia 6, São Paulo lançou edital para conceder Interlagos à iniciativa privada pelos próximos 35 anos. Com isso, estima economia de R$ 1 bilhão. O contrato já prevê que a empresa terá que ceder o local para a prefeitura durante 80 dias para a realização do GP Brasil.
Enquanto tenta manter a prova na capital paulista, a prefeitura passou a ter um rival no país. Neste ano, o Rio de Janeiro se colocou como concorrente para receber o GP Brasil a partir de 2021. Para isso, conta com o lobby do presidente Jair Bolsonaro.
“Não perderemos a F-1. O contrato vence ano que vem, e eles resolveram realizá-la no Rio. Fora isso, seria a saída do Brasil. É praticamente 99% a chance de termos a F-1 a partir de 2021 no Rio”, disse Bolsonaro em junho, após encontro com Chase Carey, diretor-geral da categoria, e o governador fluminense Wilson Witzel.
Carey, porém, afirmou após a declaração ainda negociar com as duas cidades.
Em maio, o presidente assinou termo de cooperação para levar a corrida para o Rio. A promessa é que a construção do circuito de Deodoro, na zona oeste, alçada em R$ 697 milhões, seja quitada apenas com recursos privados. No mesmo mês, o empresário JR Pereira, representante do consórcio Motorsport, ganhou licitação para construir o autódromo.
No entanto, para alento dos paulistas, a licitação para construção de Deodoro está suspensa até que a empresa entregue à Justiça o estudo de impacto ambiental sobre a floresta do Camboatá.
“Francamente, não sei até que ponto o Chasey conhece a mecânica das coisas no Brasil. Como consegue uma licença, quanto tempo leva para fazer uma licitação, uma obra. Eu não apostaria muito em uma corrida em 2021 no Rio”, diz Tamas Rohonyi, promotor do GP Brasil desde 1980 e dono da Interpub.
Por outro lado, segundo o empresário, em um almoço com Covas e Dória, o chefe da F-1 teria dito “quem sou eu para questionar o presidente”, sobre a afirmação de Bolsonaro de que a corrida seria no Rio a partir de 2021.
Há um outro fator que pode impactar no futuro do GP Brasil. O contrato entre a Globo e a FOM é válido somente até o próximo ano. A Interpub teme que sem TV aberta a corrida perca público e patrocinadores. Procuradas pela reportagem, a FOM não respondeu e a Globo não confirma se há possibilidade de renovação.
A FOM também se nega a comentar as negociações e não informa se a corrida poderá ir para outro país da América Latina,caso São Paulo não consiga pagar a taxa e o autódromo no Rio não fique pronto. JR Pereira não quis conceder entrevista.
por Carlos Petrocilo | Folhapress