Morreu nesta segunda-feira (23), aos 92 anos, o jornalista e escritor Sebastião Nery, um dos mais importantes cronistas políticos do Brasil. Político com mandatos na Bahia e no Rio de Janeiro, foi repórter e colunista de alguns dos principais jornais brasileiros, escrevendo mais de uma dezena de livros. Ele estava com a saúde debilitada havia cerca de quatro meses e morreu de causas naturais. A cerimônia de cremação será realizada das 8h às 10h desta terça-feira (24) no Rio de Janeiro.
Nascido em Jaguaquara, Nery iniciou seus estudos no Seminário de Amargosa e Seminário Central da Bahia. Na juventude, formou-se em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais e em direito pela Universidade Federal da Bahia. Começou a atuar como jornalista em 1954 e disputou as eleições para a Câmara Municipal de Belo Horizonte pelo PSB. Foi enviado em 1957 pelo Partido Comunista para Moscou, na União Soviética, para participar do Festival Internacional da Juventude. Ao voltar ao Brasil, retornou para Salvador, onde trabalhou nos jornais A Tarde e Jornal da Bahia, sendo um dos fundadores do Jornal da Semana.
Voltou à política em 1962, quando foi eleito deputado estadual na Bahia pelo MTR, mas foi preso em de março de 1964, dia em que eclodiu o golpe militar. Deixou a cadeia cinco meses depois e reassumiu o mandato, Mas seria cassado em dezembro e teria os direitos políticos suspensos em 1965. Foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar, mas não conseguiu retomar o mandato.
Deixou então a Bahia para trabalhar no Rio de Janeiro, onde atuou no Diário Carioca, TV Globo, Tribuna da Imprensa e Correio da Manhã. Foi processado após associar o então o primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Caetano, a Adolf Hitler e Benito Mussolini, mas acabou absolvido. A partir de 1975, passou a assinar coluna Contraponto, na Folha, na qual se destacou por contar bastidores e casos folclóricos da política brasileira. Depois atuou em um programa de comentários políticos na TV Bandeirantes e publicou os quatro livros da série Folclore Político, com crônicas e histórias da política nacional.
Voltou a ter uma atuação política em 1979, quando sob a liderança de Leonel Brizola tentou refundar o PTB. A legenda acabou ficando nas mãos de Ivete Vargas e Nery se uniu a Brizola na fundação do PDT. Foi secretário da executiva nacional do partido. Em 1982, foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro na mesma eleição em que Brizola foi eleito governador. Nas eleições presidenciais de 1989, foi um dos assessores de Fernando Collor de Melo. Após a vitória do alagoano nas urnas, foi nomeado adido cultural em Roma e em Paris. Afastado dos mandatos eletivos, voltou a atuar no jornalismo como colunista da Tribuna da Imprensa. Em sua trajetória, escreveu livros como “Sepulcro caiado: o verdadeiro Juraci”, “Socialismo com liberdade”, “16 derrotas que abalaram o Brasil”, “A história da vitória: porque Collor ganhou” e “A eleição da reeleição”.
Em 2014, lançou o livro “Ninguém me contou, eu vi”, com histórias de seis décadas da política brasileira, entre os governos Getúlio Vargas e Dilma Rousseff.
Sebastião Nery era viúvo e deixa três filhos: Jacques, Sebastião e Ana Rita.
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