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Para dirigente, modelo de gestão dos EUA pode ser uma barreira para clubes brasileiros

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Um dos motivos para a MLS (Major League Soccer) nos Estados Unidos estar se consolidando entre as mais importantes ligas do mundo é a grande organização que existe dentro e fora de campo, envolvendo processos bem definidos não só para investimentos, mas para a captação de novos valores para o esporte. De acordo com Bruno Costa, que está a frente da direção de scout do San Jose Earthquakes tanto os processos de captação como revelação de valores são criteriosos e bem planejados e os bons resultados são a consequência disso.

Bruno Costa diz que o processo de scout está diretamente atrelado a observação de competições em todos os continentes. “Nós fazemos um mapeamento de atletas através de um sistema em que podemos observar as competições em qualquer país. Fazemos um levantamento de possíveis carências existentes na equipe, procuramos conhecer o perfil o estilo de jogo que o treinador gosta de trabalhar e separamos os atletas por categorias (sub-20, sub-23…). Com o planejamento definido, então partimos em busca do atleta para a partir daí com o perfil traçado de esquema de jogo, ver se as características do jogador se enquadram no que está sendo planejado”, explica o dirigente.

Mas Bruno Costa busca reunir o que se vê em um atleta no Brasil com o pragmatismo estatístico americano. Ele explica que a definição de perfil e características de jogo é apenas um passo para o investimento do clube. “Nós passamos as opções de atletas que captamos e aquele que interessa ainda será observado mais uma vez in lócuo. Foi assim para trazermos o Judson que jogou no Avaí: fui ao Brasil, acompanhado de outro dirigente para que depois de observar o atleta em campo, ainda tivesse uma conversa com ele, para ver o outro lado de princípios e valores. E por que isso? Porque o nosso treinador gosta de atletas que sejam agregadores, ou seja, essa parte é considerada importante para uma definição de investimento”, conta.  

O dirigente foi mais além e confirmou que existem regras rígidas para a formação de um elenco. “Na formação do elenco existem várias regras: os três jogadores acima do teto, os formados na base, oito vagas para jogadores internacionais, um total de 30 vagas com um valor pré-determinado para cada equipe. É como um quebra-cabeça, você vai formatando, não é uma coisa aberta. Não pode contratar dez jogadores de 10 milhões de dólares”, explicou.

Os resultados, de acordo com Bruno Costa, são em sua maioria muito bons. “Temos hoje jogadores com idade sub-20 e sub-23 que são titulares nas seleções nacionais dos seus países de origem: são atletas promissores que ainda vão ter muito o que evoluir no cenário esportivo, reflexo de um trabalho que fazemos a perder de vista”, declara.

ESTABILIDADE

O modelo americano de gestão permite trabalho a longo prazo nos clubes, o que muitas vezes não acontece no Brasil, nem mesmo naqueles clubes que hoje têm uma gestão profissional nos seus departamentos de futebol. “No meu modo de ver, entendo que a gestão pelo menos do futebol deveria ser profissionalizada nos clubes e à parte dos demais departamentos. No Brasil tivemos modelos promissores como foi a Parmalat no Palmeiras nos anos 90 e a Unimed no Fluminense na década passada. Os clubes foram bem ganharam tudo o que disputaram, mas por ingerências políticas, os modelos não perduraram. É por isso que acredito ser muito difícil, um clube brasileiro ter um modelo de gestão parecido com o americano porque você trabalha o tempo todo pressionado seja por dirigentes, por torcedores, pela imprensa que sempre cobram o melhor e se esquecem que para ser o melhor é preciso estar sempre trabalhando”, comenta Bruno Costa.

O dirigente apontou a principal diferença – e vantagem – que os brasileiros encontram ao chegarem no futebol dos EUA: “É o modelo geral do negócio. No Brasil tem diretorias políticas, sem comprometimento de longo prazo. Desestimula bons profissionais de se envolverem com o futebol brasileiro. Muda a diretoria e a nova diretoria sequer olha o trabalho: troca todo mundo porque é de outra corrente política. Eu não vejo acontecendo nunca uma profissionalização, por conta do modelo. Os clubes não se ajudam”, afirmou Bruno Costa.

Por Cristiano Alves

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