O futebol feminino – hoje em alta – há mais de um século vem buscando o reconhecimento como um esporte igual a tantos outros que lhe precederam. Chegou mesmo a ter sua prática proibida no país. A máxima de que “futebol é para homem” impediu o acesso de mulheres a essa atividade. Aqui em Feira, a partir da década de 1960, outras tentativas haviam ocorrido sem sucesso. Na verdade, tempos atrás, nenhum pai e nenhuma mãe queria ver sua filhinha chutando uma bola. Isso era coisa de menino. Menina brinca é com boneca, dizia-se!
O tempo foi passando e, na década de 1970, o radiotécnico Edmilson Amorim, o popular “Michelinho”, vindo de Muritiba e já dirigente do tradicional Flamengo de Feira, resolveu mudar o panorama comum, criando o Flamengo feminino. Só não sabia que iria se notabilizar, tornando-se cidadão feirense, integrante dos quadros da Federação Baiana de Futebol e, mais importante ainda, ter o melhor time do Nordeste, contribuindo com cinco atletas para a seleção brasileira.
Em 1978, no bairro Rua Nova, ao lado do padeiro Expedito Martins, que trabalhava na extinta Padaria da Fé, Michelinho começou a observar umas garotas que gostavam de brincar com bola. Pouco tempo depois, no campo de areia Beira Riacho (hoje um pequeno estádio), havia um bom número de garotas treinando com a camiseta rubro-negra. Daí em diante, o Flamengo escreveria uma história de conquistas e glórias não alcançada por outra equipe baiana. Veio a Iª Copa de Futebol Feminino com 18 equipes da capital e interior, com 6 mil torcedores no Joia da Princesa. Depois, na Fonte Nova, Flamengo 2 x 1 Baiano de Tênis, com 14 mil torcedores, mas valeu o maior saldo de gols do clube de Salvador.
Em 1984, o Flamengo venceu o Campeonato Norte/Nordeste, obtendo a histórica Taça Irmã Dulce e ficou em terceiro lugar na Taça São Paulo, disputada na capital paulista, por times de vários estados. Em 1998, o rubro-negro foi campeão baiano invicto com: Gil, Mary, Net, Lucinha, Raélia, Bia, Rosângela, Maira, Joyce, Jane e Márcia. Já em 2018, as atividades do rubro-negro da Rua Nova foram encerradas.
Nessa época o Flamengo teve cinco jogadoras na seleção brasileira: Solange, Nalvinha, Dai, Márcia e Sissi, esta tecnicamente considerada a melhor jogadora do país. “Marta é uma jogadora muito boa, hoje é a melhor de todas, mas Sissi era muito melhor tecnicamente”, garante Michelinho. Sissi foi descoberta por jogadores do time masculino do Flamengo em Campo Formoso, veio para o rubro-negro aos 17 anos, com consentimento dos pais ao dirigente do rubro-negro feirense. Ela encerrou a carreira nos Estados Unidos, onde reside e trabalha como professora de Educação Física. Hoje, está lá.
Créditos: Zadir Marques Porto